sábado, 29 de setembro de 2012

Como fazer uma homenagem à Lua


ADORNO NOTURNO





Mais uma noite de lua
Não igual às outras, nunca
Até porque hoje estava especial
Apresentava um quê de nostalgia
Há tempos não vibrava tão forte

A lua fica mais bela quando estamos sós
Nos faz companhia
Nos inspira quando não há a quem poetizar
Não nos trai, permanece só
Nem chega atrasada, é disciplinada
Caiu a tarde e ela está ali
Pronta para o que der e vier

É a melhor ouvinte que existe
Parece adivinhar ser na noite
que precisamos mais dela a nos confortar

Apesar de estar sempre presente
ela não é entediante
Está sempre mudando
Um dia aparece mais, outros menos
Tem dias que não deve acordar no melhor humor
pois nem dá as caras
O bom é que, com o tempo,
A gente passa a entendê-la
Compreende que suas mudanças fazem parte de sua personalidade
A sua inconstância marca o seu mistério
sua característica mais sedutora

Sem falar de sua tranquilidade!
Fica alheia às trovoadas da vida...
Se a deixarem aparecer, ótimo
Se não, cumpre seu papel
Escondida, calada,
Esperando a hora certa
Sabe que tudo passa
E quando a deixarem de novo entrar em cena
Encontrará seus amados clamantes de saudade

Serve de musa a tantos
Atende a todos, não tem discriminação
Do pobre ao rico, do novo ao velho
Inclusive todo o povo, toda a cor
Um exemplo de que se deve amar pelo que é
Não pelo que aparenta ser

Quando vai chegando, tem movimentos singelos
Quase como um espreguiçar
Não fosse pela rapidez de formas e cores
Seria como um recém-nascido
Que ainda não sabe como esticar as mãos
E vem assim
Sutil
Saindo do mar com seus cabelos molhados
Com o olhar fixo
Cujo brilho se estende pelo oceano
Quase como cena de cinema.

É amiga
Escuta as súplicas, exalando compreensão
Conforta com a promessa de que os pedidos serão acolhidos
E quem sabe, quando nos encontrarmos de novo
Enfim terei alguém ao meu lado
Não mais conversarei com ela
Não mais precisarei de sua escolta
Será ela uma luminária do quarto escuro
Acessório da noite
A observar seu reflexo nos olhos fechados
Concentrados no beijo, no calor
Lua será apenas a lua
Não mais uma lua cheia de solidão.

(jan/2006)


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Como fazer um testamento vital


O Conselho Federal de Medicina passou a conferir legitimidade ao "testamento vital". Como o futuro é incerto, já me antecipei e fiz logo o meu:




TESTAMENTO VITAL

Se eu não morrer de amor
Desliguem os aparelhos
Levem-me do hospital
Não se importem com o respirar
Enterrem-me naquele momento
E cubram meu caixão de pedras
Para eu nunca mais regressar

Se eu não morrer de amor
Apaguem a luz do meu sol
Retirem a lua do céu
Será sombra o brilho do olhar
A chuva não mais molhará
A flor perderá seu perfume
E o som só silenciará

Se eu não morrer de amor
O sentido não terá dois sentidos
O tocar do órgão calará a música
O alvo e a bala não farão mais um par
Nem a cria se acreditará
O rio não será mais de graça
E a classe se embrutecerá

Se eu não morrer de amor
Que razão terá meu viver
Retirem-me desse mundo
Não se importem se eu puder caminhar
se meus passos não terão mais destino
se minha razão não será emoção
É fato: não mais sei viver sem amar...

Se eu não morrer de amor
Já estarei morta


(11/9/12)