domingo, 14 de julho de 2013

Como alguns homens de Paris se divertem com seus brinquedos

Paris: uma pintura de natureza morta


- O que tem em comum entre a estátua da “Coleção Albani”[1] no Museu do Louvre, os militares “conquistadores” como Napoleão, e os homens no metrô de Paris? 
- Todos gastam seus dias a olhar seus “brinquedos”, cada um com sua agonia. 

O primeiro, em meio a milhares de obras de arte saqueadas de outros países, tenta entender por que seu “brinquedo” de pedra se iguala aos corações de históricos esnobes homens orgulhosamente representados em estátuas e pinturas, mercantilmente produzidas por inspirados artistas necessitados por sobrevivência econômica. Embora há mais de duzentos anos a França repete o enganoso lema “liberté, egalité, fraternité”, mantém com orgulho quadros, esculturas e documentos arrancados de explorados países “colonizados”, fazendo do Louvre uma grande coleção de provas de aprisionamento, desigualdade e indiferença. Essa riqueza sugada transformou Paris numa cidade organizada, limpa, cuja natureza, inclusive a humana, há muitos séculos só aparece domesticada. O belo só sobrevive se útil, inclusive nas flores de seus calculados jardins, como o que inspirou Monet em sua luxuosa residência. Somente o sorriso da noiva vestida de bailarina fotografando no Rio Sena parece livremente verdadeiro. A eternidade do amor institucionalizado, no entanto, é questionada quando uma brasileira se depara com seu antigo cadeado inscrito seu nome e de seu ex-marido, afixado junto a milhares na ponte do famoso Rio. “Já prendi aqui na grade três, de romances diferentes. Desse meu atual namorado ainda não tenho”, comentou serenamente a brasileira que, ao contrário da jovem rumo ao casamento, entendeu a formalidade de rótulos não ser suficiente para segurar a aleatoriedade das paixões. 

Enquanto o “brinquedo” da coleção comprada pelo Cardeal Albani é de pedra, homens como Napoleão o substituiu por armas, certamente porque aquele não funcionava (vai ver que é por isso essa mania de criar obelisco como o da Praça da Concórdia, que mais parece um falo ereto). “Conquistadores” só de escravos, porque de mulheres (ou de outros homens) não devem ter sido bem sucedidos, afinal, se o fossem, ao invés de guerra estariam em suas camas confortáveis fazendo sexo. A preferência em manter a esposa socialmente castrada enquanto viajavam para massacrar outros povos é louvada na História como se fosse bonito ser feio, como se ser ruim fosse ser bom. A naturalidade na reprodução dessa ideia bélica permeia a arte e marcos turísticos de Paris. Estátuas desses homens frustrados servem para fotografias de turistas aleatórios e de banheiro para os pombos, somente. A pequena criança que sonha ser eternizada em obras como essa não tem dimensão do custo de tanta vaidade. Melhor seria se tivessem se dedicado ao Viagra desde os tempos remotos, ou fizessem como os índios americanos que tomavam suas eficientes fórmulas medicinais não submetidas a método científico (ah, mas os europeus civilizados não gostavam de índios. Chamaram-nos de “primitivos” porque passavam o dia se divertindo!). 

Em falar em diversão, os homens no melhor sistema de transporte do mundo não param de olhar para seus “brinquedos” virtuais. Celulares, tablets, e um ou outro jornal com noticias semelhantes às de anos atrás ficam a entreter os silenciosos homens e mulheres em meio ao barulho ensurdecedor da aceleração e freio nos trilhos a percorrer todo o subsolo da cidade. É o mergulho no mundo virtual para não enxergar a frieza da realidade que os cercam. O cinza nas paredes desses vagões de escravos somente coloridas com incansáveis publicidades realmente não revela nada de atraente, especialmente se combinado ao cheiro de urina de seus corredores ou ao famoso desodorante vencido no fim do dia. Mais uma vez o que salva a beleza são os cachorros conduzidos por suas donas para o passeio aos sábados, ou os olhares dos casais sedentos por chegar a suas casas e, se conseguir superar a fadiga, ter momentos de prazer. Nos fins de semana de verão os casais são conduzidos pelo metrô aos belos e animados parques, para celebrar a beleza da vida, a aparição do sol e o amor... Ah, o amor! O amor é lindo! É...Paris é de fato uma cidade romântica. 



 [1] No Museu, nessa obra não há identificação do artista, somente do anterior proprietário.

Um comentário:

  1. Olá Marta, conseguiu comprar a prancha de stand up paddle em Salvador? Também estou interessado. Caso encontre, fineza me avisar onde achou. Grato. Mau mau

    Email: cleverman_ssa@hotmail.com

    Em tempo, parabéns pelos post! Curti.

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