SER-TÃO INOCENTE - As crianças de Monte Santo
Muita, muita
emoção. Em três semanas, todo o processo de elaboração do documentário
"SER-TÃO INOCENTE - As crianças de Monte Santo" chegou a sua
conclusão. Nesse curto tempo, aconteceu tanta coisa, e de uma maneira tão
tranquila e serena, que nem parece ser tudo verdade! Daqui a dois dias, será a
estreia e exibição no cinema em minha terra natal, Maceió. Antes de ir para a
segunda etapa, vamos aos devidos esclarecimentos e agradecimentos.
O INÍCIO
Em janeiro desse
ano, graças ao surgimento em Salvador de uma mobilização social para
reivindicar a retomada de espaços públicos ocupados indevidamente pelo setor
privado (Movimento Desocupa), encontrei Isabela e Fernanda, unindo-nos a outros
no GT jurídico (ambas eu já havia conhecido no movimento estudantil de Direito,
muitos anos atrás). A partir de então, compartilhávamos as angústias com as
injustiças de nosso ofício, como a má prestação do serviço de saúde privado e
público, os processos judiciais absurdos que envolviam esquema de compra de
medicamentos pelo governo com custo astronômico ao Estado, e, finalmente, o
caso das crianças de Monte Santo.
No dia 22 de
outubro, eu, Fernanda, Isabela e Mauricio nos reunimos e decidimos ir adiante
na ideia inicial de Fernanda de produzir um documentário. Isabela e Mauricio
iriam para uma audiência naquela sexta-feira, e estariam disponíveis para nos
orientar quanto aos endereços dos familiares das partes envolvidas no caso. Eu
fiquei responsável por contratar a equipe técnica para a filmagem. Fernanda
iria providenciar alguém para edição. Nós duas iríamos na sexta-feira,
voltaríamos no sábado logo cedo. Toda a verba por um acaso recebida no futuro
seria voltada à doação, na integralidade.
Esse primeiro
projeto, no entanto, foi totalmente transformado: Fernanda já no dia seguinte
sinalizou que não iria mais para Monte Santo, eu não consegui nenhuma equipe (e
nem alugar equipamento) para filmar, Isabela e Mauricio deveriam ficar presos
na audiência no Fórum todo o dia. Na quinta-feira, 25 de outubro, às 21:30 h,
Fernanda confirmou o que vinha repetindo ao longo da semana: Monte Santo era
distante, a estrada perigosa, a família achava tudo uma loucura, o trabalho a
chamava, enfim, ela não iria mais. Eu não tinha equipamento profissional, muito
menos equipe, muito menos companhia. Sem conexão na internet, não consegui nem
pegar o mapa de Monte Santo, somente pelo celular abri uma página com o nome
das cidades de uma das estradas. Fábner Santos caiu do céu, a única ajuda até
então recebida: como profissional audiovisual, regulou as duas câmeras que eu dispunha
na minha aventura de fotógrafa amadora (uma Nikon D90 quebrada e uma compacta,
DMC-LX5 Panasonic Lumix). Deu-me várias orientações: "atenção ao enquadramento"; "grave em
lugar fechado por causa da precariedade da captação do audio das câmeras"; "capte imagens da cidade"; "atenção para a luz"; "como você não tem tripé, coloque a
câmera onde conseguir apoio (panelas, muretas, sofá etc)". Eu nunca tinha nem
lido o manual das câmeras, que dirá feito alguma filmagem decente. À
meia noite, quando imaginei encarar a aventura, fui colocar as baterias para
recarregar, e eis que um apagão no nordeste acaba com a energia.
Enfim, estaria
disposta a viajar sozinha para o sertão baiano, sem mapa, com um equipamento
totalmente amador e sem baterias, com o computador descarregado, e sem ter nem
ideia do que iria encontrar?
Como a resposta
foi positiva, às quatro horas da manhã iniciei a produção do SER-TÃO INOCENTE.
As imagens captadas, e o que eu vivenciei lá, está quase tudo documentário. A
ideia de denunciar os absurdos jurídicos foi totalmente modificada ao conhecer
a história contada pelos próprios personagens (até hoje não vi a reportagem do
Fantástico ou li matéria sobre o assunto). É uma história de extrema tristeza, num lugar em que é natural extrair momentos de
alegria mesmo em meio à seca. Não consigo transcrever em palavras a
profundidade da minha experiência, em três dias de intenso trabalho e conversas
memoráveis. Isabela e Mauricio, pessoas que não eram de meu círculo de amizades
até então, mostraram-me que "amigo não se faz, se reconhece". Aos
dois, companhias agradabilíssimas, meu muito obrigada por "tudo"
(utilizando as palavras de Luana, quando resume todas as coisas boas que existem
em sua vida). Aos demais personagens, meu agradecimento pela empatia e liberdade
de falar a alguém que nem conheciam.
Retornando,
na segunda-feira seguinte, começou a terceira etapa: a edição.
O MEIO
Dão foi o primeiro
a dizer sim, mesmo sem ter visto nenhuma imagem produzida. Com aquela voz
encantadora, respondeu: "lógico, Martinha, pode escolher a música que você
quiser". Como imaginei incluir um poema, já estendi o convite para
pedir-lhe que emprestasse sua narrativa envolvente, e mais uma resposta
positiva. "Claro! Pode contar comigo!". Lindo, lindo, lindo!
Robério César
Camilo, meu poeta favorito, foi o segundo: "Robério, lembra aquele poema
sobre sua infância que você me mostrou no primeiro ano da faculdade (há 12
anos)? É que tô fazendo um documentário... me manda!". Minutos depois Dão
já estava com ele em mãos, envolvendo-se com a história.
Osmar Simões, um
dos maiores cordelistas da Bahia, ouviu a história e
respondeu: "você precisa do poema para quando? quarta? tudo bem,
quarta-feira estará pronto!".
Anderson Cunha,
sem nem me conhecer, ao ouvir a história por telefone já ofereceu a produtora
para gravar o áudio e fazer o tratamento. Lá chegando, deu-me um CD de sua
banda, Sertanília, que me acompanha desde aquele instante até agora (a cantora
vai ficar rouca de tanto cantar no meu carro, trabalho, casa...). As músicas
são todas maravilhosas, o mundo se tornará melhor quando conhecê-las.
Bruno, também até
então desconhecido, gravou o áudio com um sorriso de orelha a orelha, parecia que
estava ganhando uma fortuna naquilo. Como todos, entretanto, fez seu trabalho
gratuitamente. Nunca vi tanta gente boa e talentosa aparecer de uma vez só!
Aí liguei para
Daniel Araújo Macedo, amigo da época da capoeira, que eu nem sabia ser
conhecido no meio publicitário como BPK (bom pra karalho). Além do design
(marca), disponibilizou a OVNI AUDIO VIDEO para o início da edição, e apresentou-me
a Beto Braga, o primeiro editor. Por um final de semana inteiro, essa figura
ilustre (pai de duas crianças super espertas, e com uma história de amor linda
com sua esposa) debruçou-se nas imagens e fez o esqueleto do projeto.
No show de Wado, a
inspiração para o roteiro. Foi quando descobri a música que fecha a trilha
sonora, cedida por ele de forma imediata, mesmo sem nem me conhecer. O novo CD
dele, que pode ser baixado em sua página, foi a trilha sonora de minhas manhãs
até então. Espetacular. "Se você for, por favor, não vá!"
Semana passada
surgiu Bob, que mora no meio de uma floresta, quase como um ser de outro mundo. Concluiu a edição sem reclamar nenhuma vez das minhas
ligações de "estica e puxa" de cenas, corta aqui, muda ali.
Ainda teve
Viviani, curadora do Centro Cultural Sesi. Foi ela quem me incentivou a fazer a
exposição de fotografia, inicialmente prevista para janeiro de 2013,
coincidentemente antecipada para iniciar dia 15 de novembro. Daí para conseguir
um espaço para o lançamento do documentário naquele cinema em Maceió foi um
pulo. Tudo muito incrível.
Após a matéria do
último domingo no jornal A Tarde, poeticamente escrita pelo jornalista Samuel,
veio a inclusão última música, Construção de Amor, da banda Vibrações Rasta,
que traduz o convite dessa iniciativa: "VAMOS FORMAR UM MUTIRÃO E COMEÇAR
A NOSSA CONSTRUÇÃO DE AMOR".
E todas essas pessoas me ajudaram de graça e sem nem ver as imagens. Que responsa!
Essa é uma breve história de como eu fui instrumento de produção desse documentário. Não vejo a hora pra que você, que está lendo, conheça o SER-TÃO INOCENTE. Você já viu? Então me conte o que você achou, adorarei conhecer sua história. Espero que
se sinta tocado(a).
E que o universo conspire a favor dos ventos bons!
O FIM
"Nessa estrada não se sabe onde vai dar..."
O FIM
"Nessa estrada não se sabe onde vai dar..."
Programação:
quinta-feira, 15 nov, estreia em Maceió.
Semana seguinte:
estreia em Salvador (a confirmar o local).
Dia seguinte à
semana seguinte: documentário disponível no youtube para todos.
Martinha, vc é D+!
ResponderExcluirMicheline